A Manutenção da Integridade do Sistema Imunitário: Apoptose, Linfócitos et al.
A. Martins, C. Marrana, F. Menezes, I. Galveias e M. Abecassis
Universidade Nova de Lisboa
Faculdade de Ciências Médicas
RESUMO:
A apoptose (ou morte celular programada, ou suicídio celular) é o processo pelo qual as células iniciam um mecanismo de auto-destruição em resposta a um sinal. Este processo tem por base a expressão de diversos genes que codificam proteínas com funções muito variadas, sendo que as famílias mais importantes são a família das Bcl-2, as caspases e a família IAP.
A morte celular programada é fundamental para a homeostasia do organismo, sendo de elevada importância no sistema imunológico. Esta importância reflecte-se tanto na quantidade como na diversidade de situações nas quais este mecanismo actua. A apoptose actua essencialmente por duas vias, por indução e por negligência, contribuindo para a manutenção da integridade deste sistema. A sua regulação nas células linfóides, executa-se através da conjugação de sinais de receptores de identidade (imunoglobulinas e TcR) e de receptores mortíferos.
Palavras-Chave: Apoptose, linfócitos B, células T, Bcl-2, MHC, maturação.
ABSTRACT:
Apoptosis (or programmed cell death, or cellular suicide), is the process by which cells start a self-destruction mecanism in response to a signal.This process is based on the expression of several genes that codify proteins with very different functions, being that the most important ones are the Bcl-2´s family , caspases and IAP´s family.
The programmed cell death is essential for homeostasis of the organism, being of major importance in the imunne system. This major relevance is reflected not only in the quantity, but also on the diversity of situations in which this mecanism plays a role. Apoptosis operates mostly in two ways, through instruction and neglect, contributing for the maintenance of the integrity of this system. Its regulation in the lymphocytic cells, is executed through the conjugation of signals of receivers of identity (IgM and TcR) and of deadly receivers.
Key-Words: Apoptosis, B Cells, T Cells, Bcl-2, MHC, maturation.
INTRODUÇÃO
“Better Dead than Wrong” (Cohen et al)
O termo apoptose, que deriva do grego e significa decadência, caracteriza o processo pelo qual as células iniciam um mecanismo de autodestruição em resposta a um sinal. A apoptose foi primeiro descrita por Kerr em 1972, a partir de observações em timócitos.
É uma morte celular fisiológica, geneticamente programada, essencial à sobrevivência dos organismos multicelulares. Ela está em equilíbrio constante com os mecanismos de proliferação celular.
Na maioria das células e dos organismos multicelulares, o mecanismo de suicídio tem por base a expressão de vários genes que codificam proteínas com funções muito variadas, sendo que as mais importantes são a família das Bcl-2, as caspases e a família IAP.
As caspases clivam proteínas chave à sobrevivência celular, levando ao desmantelamento da célula e à morte celular.
A Bcl-2 e a Bcl-XL impedem a libertação do citocromo c da mitocôndria, inibindo a apoptose, enquanto que outros, como a Bad, inibidora de proteínas que impedem a apoptose, a Bax e a Bak são promotoras da apoptose.
A família IAP (inhibitor of apoptosis) é também uma importante reguladora da apoptose, inibindo-a de duas formas: liga-se a algumas pro-caspases impedindo a sua activação ou então liga-se às caspases impedindo a sua acção.
As células adquirem, então, um conjunto de proteínas capazes de actuar como armas de autodestruição. No período em que a célula é útil ao organismo, ela reprime este mecanismo. Se, no entanto, a célula comprometer a saúde do organismo ou deixar de ser necessária, a apoptose é desencadeada, levando à morte celular.
Infere-se assim que a apoptose é uma resposta celular a diversos estímulos, reconhecidos e propagados na célula através da expressão controlada de diversos genes.
O reconhecimento e a propagação dos sinais apoptóticos pode efectuar-se por uma de duas vias: a via extrínseca ou via intrínseca. Na primeira o sinal apoptótico resulta da interacção ligando-receptor de morte, enquanto que na segunda, também designada por via mitocondrial, os membros da família Bcl-2 funcionam como protectores ou agressores mitocondriais e a mitocôndria constitui o elemento essencial do processo apoptótico mediando a libertação de vários factores.
Contudo, existe ainda uma terceira via, na qual se verifica a activação directa de caspases iniciadoras e de caspases efectoras pela introdução no citoplasma de células-alvo, através de poros na membrana celular de uma molécula presente nos linfócitos T citotóxicos.
Numa fase inicial da apoptose, ocorre a produção de enzimas necessárias ao processo, não havendo alterações conformacionais da célula. Posteriormente, ocorre uma diminuição de volume celular, com afastamento da célula apoptótica das células envolventes por perda dos complexos de junção e especializações da membrana. Simultaneamente, dá-se a destruição do citoesqueleto e a condensação da cromatina, a qual é, posteriormente, cindida em fragmentos nucleossómicos por acção de endonucleases. Por fim, ocorre fragmentação da célula em corpos apoptóticos que rapidamente são fagocitados por células vizinhas. Por conseguinte, os constituintes celulares não são libertados para meio extracelular, pelo que se verifica a inexistência de um processo inflamatório.
A apoptose é um processo rápido, que se completa em aproximadamente 3 horas e não é sincronizado por todo o órgão, portanto diferentes estágios de apoptose coexistem em diversas secções dos tecidos. Devido à taxa rápida de destruição celular é necessário que apenas 2 a 3% das células estejam em apoptose em determinado momento para que se obtenha uma regressão substancial de tecido.
A morte das células constituintes das membranas interdigitais do embrião humano, a morte das células da cauda de um girino durante a metamorfose são alguns dos exemplos clássicos de apoptose.
É também importante salientar que muitos dos genes que condicionam a proliferação celular (chamados oncogenes e genes supressores de tumores) estão também envolvidos na iniciação do processo de apoptose e que a inibição por si só do processo fisiológico da apoptose leva à sobrevivência prolongada das células, favorecendo o acumulo de mutações e a transformação maligna. Assim, a apoptose representa um mecanismo de eliminação selectiva de células cuja sobrevivência poderia prejudicar o bem estar do organismo.
Por excesso ou por defeito, a apoptose poderá provocar desde malformações congénitas a doenças neurodegenerativas e a disfunções imunológicas, e podem ainda contribuir para a persistência de células anormais facilitando o desenvolvimento de tumores.
A apoptose está ainda envolvida na morte das células queratinizadas, na selecção clonal de linfócitos B e ocorre no desenvolvimento embrionário, na organogénese, na renovação de células epiteliais e hematopoiéticas, na evolução cíclica dos órgãos reprodutivos da mulher, na evolução de alguns órgãos e ainda na regressão de tumores. Portanto consiste num tipo de morte programada, desejável e necessária que participa na formação dos órgãos e que persiste em alguns sistemas adultos como a pele e o sistema imunológico.
É ainda importante reter que existem diversos tipos de genes envolvidos na regulação da apoptose: genes responsáveis por desencadear a apoptose; genes envolvidos no próprio processo apoptótico; genes necessários para a fagocitose dos corpos apoptóticos e genes requeridos para a dissolução final dos corpos apoptóticos fagocitados.
Ao nível do sistema imunitário, a questão fulcral consiste em saber como são identificadas as populações posteriormente eliminadas pelo processo de apoptose. Por essa razão serão abordados: o mecanismo de reconhecimento de receptores, a origem do sinal apoptótico e a via de transmissão do sinal apoptótico.
Será verificado que a regulação da apoptose das células linfóides, quer no decurso do desenvolvimento do sistema linfóide quer no seu funcionamento normal na forma de respostas imunológicas, efectua-se através da conjugação de sinais de receptores de identidade (imunoglobulinas e TcR) e de receptores mortíferos, cuja expressão varia ao longo da maturação linfóide e em resultado de estímulos diversos.
VIAS APOPTÓTICAS NO SISTEMA IMUNITÁRIO
O mecanismo apoptótico surge por duas vias major: como resposta à perda de sinais extracelulares de sobrevivência – apoptose por negligência- ou iniciada por um ligante captado pelos receptores de morte – apoptose por indução. No sistema imunitário, a primeira é responsável por processos como a eliminaçao de linfócitos B na sua pré-maturação, na eliminação de linfócitos incapazes de competir por citoquinas. A segunda, intervém na selecção negativa de Célula B e T e na eliminação de populações de linfócitos após uma resposta imunitária.
Apoptose por Negligência
Pré-maturação e Selecção Positiva
Na fase de pré-maturação, os linfócitos B sofrem um rearranjo genético que vai permitir a síntese de novos e específicos receptores antigénicos. No caso de ocorrer uma mutação que leve à produção de receptores não funcionais (que não in-frame), estes linfócitos deixam de receber moléculas sinalizadores importantes para o seu desenvolvimento, levando a danos mitocondriais, induzindo a via mitocondrial da apoptose por libertação de citocromo c, AIF, SMAC/DIABLO e endonuclease G. Processo análogo ocorre nos linfócitos T: aquando da recombinação dos genes dos receptores antigénicos (TCR), ocorrendo uma mutação nonsense nos dois alelos que codificam o TCR, a célula não prossegue o seu desenvolvimento.
O processo de selecção positiva das células T, que decorre na região cortical do timo, assegura que os TCRs αβ expressos nas células T maduras, em determinado indivíduo, apresentam a capacidade de se ligarem às moléculas do MHC próprias, resultando em restrição ao MHC. Micrografias electrónicas revelaram um contacto íntimo entre os timócitos imaturos e as células epiteliais corticais, e existem evidências de que os TCRs têm tendência a agrupar-se com as moléculas do MHC nos locais de contacto. Alguns pesquisadores sugeriram que a interacção dos timócitos imaturos com as células epiteliais tímicas mediada por receptores TCR restritos às moléculas do MHC permite às células receberem um sinal protector que as previne de passarem pela morte celular; e as células cujos receptores não são restritos às moléculas do MHC e, portanto, não são capazes de se ligarem a estas, não interagiriam com as células epiteliais tímicas e, consequentemente, não receberiam o sinal protector, levando à sua morte por apoptose.
Durante a selecção positiva, os timócitos imaturos que expressam só uma cadeia β continuam a rearranjar os genes da cadeia α (uma vez que as proteínas RAG-1, RAG-2 e TdT continuam a ser expressas), e os TCRs resultantes são então seleccionados para o reconhecimento do MHC próprio. Somente aquelas células cujo heterodímero TCR αβ reconhece uma molécula do MHC próprio são seleccionadas para sobreviverem. Consequentemente, a capacidade de tentar mais do que uma combinação de cadeias TCR αβ é importante porque oferece ao timócito oportunidades de “retomar” o teste para a selecção positiva. Se por acaso a célula se orienta para rearranjar uma cadeia α que permite que o TCR αβ resultante reconheça o MHC próprio, a célula é poupada; senão morrerá por apoptose dentro de 3 a 4 dias.
Família Bcl-2
Uma experiência realizada em animais transgénicos, modificados para expressar um número excessivo de Bcl-2 e Bcl-XL em linfócitos B e T, revelou um aumento na quantidade de linfócitos em circulação. Noutra experiência, verificou-se que em organismos geneticamente modificados de forma a não exprimirem a Bcl-2 ou Bcl-XL, levou a uma diminuição significativa dos mesmos linfócitos circulantes. Estas experiências permitem demonstrar claramente o papel da familia Bcl-2 na inibição da apoptose.
Os mesmos estudos revelaram ainda que a ausência de Bcl-2 ou Bcl-XL afecta directamente os linfócitos, sendo que a ausência de Bcl-2 afecta a sobrevivência das células maduras, enquanto que a ausência de Bcl-XL impede o desenvolvimento das células imaturas.
Estes mecanismos, apesar de prevenirem a morte por apoptose, não foram eficazes na prevenção de outros efeitos de negligência como a atrofia celular e níveis reduzidos de ATP.
A eliminação dos linfócitos incapazes de competir por citoquinas relaciona-se intimamente com a família Bcl-2. Bad, um membro pró-apoptótico da família Bcl-2, é fosforilado por quinases e sequestrado por certas proteínas citosólicas. Na ausência de citoquinas, o Bad é desfosforilado e translocado para a mitocôndria onde fixa Bcl-2 e Bcl-xL, contribuindo assim para a apoptose por negligência.
Bim, outro membro da familía Bcl-2 mostrou também ser bastante importante na morte por negligência. Estudos em ratos trangénicos Bim -/- mostraram desenvolvimento de hiperplasia línfoide, resultante da resistência aumentada a este modo de selecionamento de linfócitos. Parece que o Bim liberta-se do citoesqueleto perante estímulo apoptótico e liga-se a Bcl-2 e Bcl-xL. Durante a negligência a transcrição de Bim é também aumentada, evidenciando assim a sua importância.
Já os Bax e Bak revelam-se pouco influentes no sistema imunitário quando retirados transgénicamente de forma isolada. Em ratos transgénicos Bax -/- e Bak -/-, a ausência dos dois em simultanêo leva a efeitos sistémicos no organismo, quando estes sobrevivem.
Apoptose por indução
A apoptose por indução, no sistema imunitário, aparece ao nível da selecção negativa de linfócitos B e T e na eliminação de populações de células T no terminus da resposta imunitária.
Selecção Negativa
Na fase de maturação, os linfócitos B que expressam somente à sua superfície um único tipo de Imunoglobulina (IgM) denominam-se de linfócitos B imaturos. Para que adquiram a designação de linfócitos B maduros, devem emigrar da medula óssea (onde ocorre a sua formação inicial) e utilizar processos alternativos do RNA mensageiro da cadeia pesada para expressarem na sua superfície celular não só a IgM, mas também a IgD. Algumas células B imaturas falham essa transição, pois as suas imonuglobulinas reagem com as moléculas do MHC do organismo. Quando tal sucede, a célula B é induzida a cometer suícidio por apoptose, sendo as vesículas apoptóticas fagocitadas por macrófagos. As células que sobrevivem a esta selecção passam a expressar IgD e IgM na sua superfície passando a designar-se de linfócitos B maduros, que ao contactarem com o determinante antigénico que lhes é específico, desenvolvem uma resposta imunitária.
De forma semelhante, a população de células T que sobrevivem à selecção positiva, que compreende algumas células com receptores de baixa afinidade para os auto-antigénios apresentados pelas moléculas do MHC próprias e outras células com receptores de alta afinidade, experimentam um processo de selecção negativa. Na medula do timo, as APCs (Antigen Presenting Cells, células dendríticas e macrófagos) expressam as moléculas do MHC de classes I e II interagem com os timócitos que expressam os receptores de alta afinidade pelos auto-antigénios e as moléculas do MHC próprias ou somente as moléculas do MHC próprias sozinhas. A interacção envolve o TCR do timócito que está a ser seleccionado, porém os detalhes precisos deste processo não são ainda conhecidos. Observa-se que as células que experimentam selecção negativa morrem por apoptose.
Activação vs. Morte
Quando as células B imaturas, sujeitas ao contacto com um antigénio, se ligam a este morrem por apoptose. No entanto, perante o mesmo fenómenos de activação por antigénio, as células maduras entram em proliferação e diferenciação, o que deve requerer um segundo sinal que iniba a apoptose mediada por esta multimerização. Os complexos CD19/CD21 e CD40 são checkpoints que parecem estar envolvidos nesta segunda sinalização, permitindo apenas a proliferação às células maduras. A co-estimulação parece ter, assim, uma elevada importância como segundo sinal, uma vez que estimula a síntese de CD28, CD19 e CD40 que são potentes indutores de Bcl-xL e que as citoquinas IL-2 e IL-4, relacionadas com este processo, aumentam a expressão de genes promotores de sobrevivência, evitando assim a evolução da apoptose. Por outro lado, estes resultados parecem ser coerentes com outros estudos que apontam para o envolvimento de Nur77, um factor de transição e receptor nuclear de hormonas esteróides, na apoptose por indução através da sua capacidade de se translocar para a membrana mitocondrial e provocar a translocação de citocromo c para o citosol, agredindo a mitocondria e activando a via mitocondrial, processo esse que poderia ser evitado por protectores mitocondrias mais concentrados nas células maduras. Processo similar parece ocorrer nas células T, embora adaptado à especificidade das mesmas.
No entanto, as diferenças entre a via de resposta à estimulação antigénica nas células imaturas que entram em apoptose e nas células maduras que começam um processo de proliferação e diferenciação não são ainda claras.
Efeitos da Radiação
Porque são os linfócitos tão anormalmente susceptíveis à radiação, quando os danos induzidos por essas doses baixas são facilmente reparados por outras células? Foi proposto que os linfócitos são levados à auto-destruição sempre que são ligeiramente «magoados». O que parece lógico pois, no final de contas, os linfócitos estão entre as poucas células do organismo que são facilmente incitadas, e às quais é permitida, a expansão clonal extensiva. A danificação do DNA de um linfócito por radiação ou outros agentes poderia levar à mutação em genes que codificam reguladores de crescimento ou receptores específicos. A eliminação selectiva dos linfócitos expostos poderia prevenir a proliferação desregulada ou a autoreactividade. Em vez da reparação, que poderia falhar, a resposta dos linfócitos parece ser o suicídio. Estudos nos quais linfócitos foram sujeitos a doses de radiação suficientes para os danificar, mas insuficientes para os matar - excluindo portanto o processo necrótico e possibilitando a apoptose (já que «uma célula morta não pode cometer suicídio») -, parecem confirmar esta tendência dos linfócitos para escolherem a via mais segura.
Eliminação das Populações de Células T activas
A activação das células T periféricas maduras, que se inicia com a interacção do receptor da célula T com um peptídeo antigénico exposto na fenda de uma molécula MHC, conduz à proliferação e diferenciação de Células T em vários tipos de células efectoras e células T de memória. Uma vez eliminado o agente patológico, é fundamental eliminar as células que se encontram a produzir elevados níveis de citocinas que não são mais necessárias, podendo mesmo ser potencialmente prejudiciais para o hospedeiro. É o processo apoptótico que possibilita a remoção da população de células T expandida e eliminação das células TH activadas. Fora do timo, a maioria, senão toda a apoptose mediada pelo TCR das células maduras, algumas vezes referidas como morte celular induzida pela activação (AICD) é induzida através da via do Fas.
A morte celular por apoptose das células T activas afigura-se extremamente vantajosa, principalmente por duas razões. Primeiro, a induçao da morte celular programada após a neutralização do antigénio assegura o fim imediato da resposta imunitária sem implicar os custos metabólicos envolvidos na manutenção de um número elevado de células efectoras. Segundo, a morte dos clones de células T específicas para determinado antigene previnem a possível interferência destes no desenvolvimento de respostas imunitárias subsequentes contra antigénios não específicos para estes clones, evitando a competição por concentrações limitadas de factores de crescimento.
CONCLUSÃO
Como referido anteriormente, a morte celular programada constitui um importante mecanismo na manutenção da homeostasia do nosso organismo. Mais ainda no sistema imunitário, no qual o processo apoptótico desempenha um papel fundamental na manutenção da integridade do seu princípio básico: a distinção entre o self e o non-self pelos intervenientes na resposta imunitária. Um aumento da apoptose nos linfócitos poderia levar a situações de imunodeficiência devido à perda das células. De forma controversa, a inibição da apoptose poderia levar ao desenvolvimento de doenças auto-imunes e linfomas.
Embora nos últimos 20 anos se tenha avançado muito no conhecimento dos mecanismos apoptóticos intervenientes na homeostasia do sistema imunitário, alguns processos relevantes e seus intervenientes continuam por esclarecer. No entanto, ficam aqui descritos muitos dos processos apoptóticos que fazem do sistema imunitário um dos melhores exemplos da importância da apoptose na manutenção da homeostasia do corpo humano e da sua integridade. Nomeadamente, as duas grandes vias de regulação da morte celular dos linfócito´s: a apoptose por negligência e a apoptose por indução. Outra via de grande relevância no sistema imunitário poderia ser abordada - indução de apoptose pelas células T citotóxicas -, embora num contexto que não a manutenção da integridade imunológica do indivíduo e o exercício da sua identidade biológica única.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Constituição do Sangue:
Plasma:
Componentes e função:
Água (90%):
Origem: absorção no intestino;
Mantém o volume do sangue e transporta as moléculas e iões.
Proteínas:
Origem: fígado;
Mantém o volume e pressão do sangue;
Coagulação e defesa (factor VIII).
Sais:
Origem: absorção no intestino;
Mantêm a pressão e pH do sangue;
Regulação da permeabilidade da membrana.
Substâncias transportadas pelo Plasma:
Nutrientes;
Gases respiratórios;
Resíduos de catabolismo;
Hormonas.
Elementos celulares:
Hemácias:
Origem: medula vermelha dos ossos.
Características e Função:
Forma de disco bicôncavo (relação área/volume mais favorável – facilita a ligação dos gases à hemoglobina)
Não tem núcleo nem organelos citoplasmáticos.
Contém hemoglobina (transporte de gases respiratórios).
Leucócitos:
Origem: medula vermelha dos ossos.
Tipo | Nome | % | Forma | Morfologia | Função |
Agranulares: núcleo não dividido em lobos e citoplasma não granuloso. | Linfócitos | 20 a 30 | | Núcleo esférico e volumoso rodeado por um anel muito estreito de citoplasma | Produção de anticorpos. Activos na reacção a antigénios e nos mecanismos de rejeição de enxertos. |
Monócitos | 3 a 8 | | Núcleo excêntrico em forma de rim ou ferradura | Circulam no sangue durante poucas horas e depois migram para os tecidos, aumentam de tamanho e transformam-se em macrófagos, vivendo muito tempo e com actividade fagocitária. | |
Granulares: núcleo multilobado e citoplasma granuloso. | Neutrófilos | 65 a 70 | | Núcleo com formas variadas: normalmente constituído por 3 a 5 lobos irregulares ligados por finos filamentos | Actividade fagocitária elevada, sendo normalmente os primeiros a chegar aos tecidos infectados, atraídos por quimiotaxia. Normalmente morrem quando fagocitam bactérias, constituindo grânulos de pus. |
Eosinófilos ou Acidófilos | 2 a 4 | | Núcleo normalmente bilobado | Actividade fagocitária limitada (parasitas). Reduzem a reacção inflamatória, pela produção de enzimas que degradam as substâncias químicas produzidas por basófilos | |
Basófilos | 0,5 a 1 | Núcleo volumoso de forma irregular, retorcido | Elaboram heparina, substância anticoagulante, e histamina. |
Plaquetas Sanguíneas:
Origem. Medula Óssea.
Corpúsculos celulares anucleados de reduzido tamanho.
Favorecem a coagulação do sangue.
O sistema imunitário é constituído por um conjunto de órgãos, tecidos e células capaz de:
reconhecer os elementos próprios e estranhos ao organismo
desenvolver acções que protegem o organismo dos agentes patogénicos e das células cancerosas.
Componentes do Sistema Imunitário:
Órgãos Linfóides Primários: Onde ocorre o processamento, maturação e diferenciação dos linfócitos.
Timo
Medula Óssea.
Órgãos Linfóides Secundários ou Periféricos: locais de armazenamento, circulação e desenvolvimento da resposta imunitária.
Baço
Gânglios Linfáticos
Amigdalas
Tecido linfático disperso
Células efectoras:
Fagócitos:
Neutrófilos
Eosinófilos
Monócitos Macrófagos
Produção de substâncias químicas (histamina):
Mastócitos (células do tecido conjuntivo).
Basófilos
Linfócitos:
Linfócitos B Plasmócitos Imunidade mediada por
(medula óssea) (gânglios linfáticos) anticorpos
Linfócitos T Células T Imunidade mediada por
(Timo) células
O reconhecimento dos elementos próprios e estranhos ao organismo baseia-se num conjunto de glicoproteínas superficiais da membrana citoplasmática que funcionam como marcadores celulares. Estas glicoproteínas são codificadas por um conjunto de genes localizados no cromossoma 6, sendo designado complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Desta forma, cada indivíduo tem uma identidade bioquímica única.
Antigénio – molécula que pode ser reconhecida como estranha pelas células do sistema imunitário, pois possui marcadores de superfície (determinantes antigénicos) diferentes dos que possuem estas células.
Anticorpo – proteína específica (imunoglobulinas) que reconhecem os antigénios, ligando-se a estes. São produzidos pelos plasmócitos.
Propriedades relevantes apresentadas pelos leucócitos:
Diapedese – Migração dos leucócitos através dos poros do endotélio dos vasos sanguíneos para os tecidos envolventes. Só possível devido à sua capacidade de mudar de forma.
Fagocitose – Captura, por endocitose, de células ou restos de células que são destruídas em vesículas digestivas.
Quimiotaxia – processo de atracção dos neutrófilos e outros leucócitos para áreas de tecidos lesionados, através de sinalizadores químicos libertados pelas células lesionadas, proteínas de complemento activadas, linfócitos e outras substâncias.
Fagocitose
Fagocitose: tipo de endocitose em que determinadas células englobam partículas para proceder à sua digestão e eliminação.
Células fagocitárias:
Neutrófilos;
Monócitos;
Eosinófilos.
Descrição do processo:
Os agentes patogénicos, vírus e outras células são reconhecidos pelos anticorpos que se ligam aos antigénios específicos.
A célula fagocitária emite pseudópodes que auxiliam no processo de endocitose, de modo que a que o agente patogénico penetre no interior desta célula.
O agente patogénico é degradado por enzimas lisossomais existentes nos lisossomas.
Os produtos de excreção são expelidos por exocitose e encaminhados para o exterior através dos gânglios linfáticos.
Defesa Não Específica
Defesa não específica ou imunidade natural/inata:
presente desde o nascimento;
não está especificamente destinada para um agressor;
não distingue os agentes infecciosos uns dos outros;
exprime-se sempre do mesmo modo
não tem memória.
1ª Linha de defesa
Barreiras físicas e secreções:
Pele: Previne a entrada de patogenes e substâncias estranhas que raramente penetram quando a pele está íntegra.
«Flora normal»: fungos e bactérias que normalmente vivem e se reproduzem em grande número nas superfícies do nosso corpo, competindo por espaço e nutrientes com os agentes patogénicos, constituindo um tipo de defesa.
Muco segregado por tecidos dos sistemas visual, respiratório, digestivo, excretor e reprodutor captura bactérias e outros agentes patogénicos.
Secreções ácidas: inibem o crescimento bacteriano na pele.
Pêlos nasais: filtram as bactérias nas passagens nasais.
Cílios: movem o muco e retêm materiais longe do tracto respiratório.
Suco gástrico: concentrado de HCl e proteases que destroem patogenes no estômago.
Lágrimas e saliva: lubrifica e limpa; contém lisozima, que ataca a parede celular de inúmeras bactérias.
2ª Linha de defesa
Resposta Inflamatória:
Ocorre quando agentes patogénicos conseguem ultrapassar as barreiras físicas de defesa do organismo, na zona de penetração (acção localizada).
Processo:
Produção de mediadores químicos ( principalmente histamina1) pelo tecido ferido, mastócitos e basófilos.
Vasodilatação dos capilares do local maior afluxo de sangue vermelhidão e calor
Aumento da permeabilidade da parede dos capilares sanguíneos filtração abundante de fluído para o tecido edema
Saída dos capilares de plasme e de alguns leucócitos por diapedese: neutrófilos (1º a chegar) + monócitos (macrófagos) fagocitose
Factores de coagulação reparação de tecidos
Resposta Sistémica:
É accionada quando os agentes patogénicos são particularmente agressivos e ocorre em várias partes do organismo.
Caracteriza-se por.
Aumento do número de leucócitos em circulação – resulta da estimulação da medula óssea por substâncias químicas produzidas pelas células lesadas.
Febre – desencadeada por toxinas produzidas pelos agentes patogénicos ou por pirógenos produzidos por leucócitos, que actuam sobre o hipotálamo e regulam a temperatura do corpo para um valor mais alto. A febre moderada é benéfica porque acelera as reacções do organismo, estimulando a fagocitose e a reparação dos tecidos lesados. Adicionalmente, inibe a multiplicação de alguns microorganismos.´
Em consequência do processo inflamatório pode ocorrer a acumulação de pus, que é constituído por células mortas (neutrófilos e corpos celulares atingidos) e pelo plasma libertado. Numa fase final, o pus é, geralmente, consumido e digerido pelos macrófagos.
Interferão:
mecanismo contra infecção por vírus:
1 - o vírus liga-se a uma célula
2 - Ocorre produção de interferão por essa célula.
3 - O interferão entra na circulação e liga-se aos receptores membranares das células vizinhas.
4 - As células ligadas ao interferão produzem proteínas antivirais que bloqueiam a multiplicação de qualquer vírus que entre na célula.
Sistema Complemento:
Constituído por uma série de cerca de 20 proteínas do plasma (produzidas no fígado, baço, intestino...) e que, normalmente, circulam no sangue no estado inactivo.
Após activadas, as diferentes proteínas podem:
Aumentar a vasodilatação e a permeabilidade dos vasos facilitando a saída de fagócitos;
Facilitar a fagocitose: os fagócitos reconhecem células estranhas mais facilmente após as proteínas complemento se ligarem a essas células;
Formar poros na parede da célula bacteriana, por onde entram fluídos e sais (iões) que provocam o seu rebentamento por choque osmótico.
As proteínas de complemento actuam numa sequência característica ou em «efeito cascata», no qual cada proteína activa a seguinte.
1 Histamina: substância produzida por basófilos que circulam no sangue e mastócitos do tecido conjuntivo. Estimula a vasodilatação e aumenta a permeabilidade dos capilares sanguíneos, iniciando a reacção inflamatória.
Defesa Específica
Defesa específica ou imunidade adquirida:
é específica de um agressor (antigénio);
é um processo lento, mas eficaz, especialmente dirigido a cada elemento estranho;
3ª linha de defesa;
existe memória.
A resposta imunitária específica engloba três funções importantes:
Reconhecimento: o antigénio é reconhecido.
Reacção: o sistema imunitário reage preparendo os agentes específicos que vão intervir no processo.
Acção: neutralização ou destruição das células ou corpos estranhos.
Imunidade Humoral
Imunidade humoral/Imunidade mediada por anticorpos:
Efectivos contra bactérias, toxinas produzidas por bactérias, vírus e moléculas solúveis.
Responde a cada antigénio particular pela produção de anticorpos específicos, que são libertados no sangue ou na linfa circulando até ao local da infecção.
Mecanismo de activação e diferenciação de Linfócitos B:
Os Linfócitos B são processados e atingem a maturação na medula óssea, migrando depois para os órgãos linfóides onde são armazenados.
Plasmócitos: 1
Retículo endoplasmático extremamente desenvolvido
Grande capacidade de síntese proteíca
Produção elevada de anticorpos (os anticorpos são glicoproteínas)
Anticorpos:
Glicoproteínas específicas – Imunoglobulinas (Ig).
Estrutura: Moléculas em forma de Y, constituídas por 4 cadeias polipetídicas, duas cadeias pesadas e duas cadeias leves. As cadeias polipeptídicas possuem uma região constante, muito semelhante em todas as imunoglobulinas, e uma região variável. As regiões variáveis diferem quanto à sequência dos aminoácidos, contribuindo para o arranjo tridimensional da região onde o anticorpo se liga ao antigénio.
Esta região variável é responsável pela diversidade e especificidade dos anticorpos, uma vez que a sequência de aminoácidos é única em cada uma das milhares de imunoglobulinas.
Apesar de as regiões variáveis serem as responsáveis pela especificidade da imunoglobulina, são as regiões constantes que determinam se o anticorpo permanece na membrana plasmática das células ou se é lançado para a corrente sanguínea.
O elevado grau de especificidade no local de ligação do anticorpo a um antigénio resulta de dois factores:
a sua estrutura é complementar da estrutura de um determinante antigénico (ou epítopo).
nesse local, toda a estrutura química favorece o estabelecimento de forças electroestáticas e de ligações de hidrogénio entre o anticorpo e o antigénio.
Células-memória: numa futura exposição ao antigénio multiplicam-se e formam plasmócitos e outras células-memória.
Mecanismos efectores da Imunidade Humoral:
Aglutinação: os anticorpos formam complexos insolúveis de anticorpos ligados a antigénios, tornando-os inofensivos, facilitando a sua remoção ou destruição por células do sistema imunitário.
Intensificação directa da fagocitose: a combinação do anticorpo com o antigénio bacteriano aumenta a actividade das células fagocitárias vinculadas a esse microorganismo, favorecendo a invaginação da membrana e, portanto, a fagocitose.
Neutralização directa de vírus e toxinas bacterianas
Activação do sistema complemento: desde que os anticorpos se fixem sobre os antigénios da membrana de uma célula estranha, o sistema complemento fica activo, fixando-se uma determinada proteína complemento sobre a parte constante dos anticorpos. Desencadeia-se uma sequência de reacções que leva à formação de poros e à destruição da célula.
Aumento da vasodilatação e da permeabilidade vascular
Imunidade Mediada por Células:
Imunidade mediada por células:
Os Linfócitos T sofrem processamento na medula óssea e maturação no Timo.
Activos contra parasitas multicelulares, fungos, células infectadas por bactérias ou vírus, células cancerosas, tecidos enxertados e órgãos transplantados.
Os linfócitos T possuem receptores de superfície específicos – glicoproteínas – constituídos por duas cadeias polipeptídicas, cada uma codificada por um gene separado. Apresentam regiões variáveis que fornecem a especificidade para a reacção com um único antigénio.
Apenas reconhecem os antigénios que se encontram ligados a marcadores da superfície de certas células imunitárias (macrófagos) – as Células Apresentadoras de Antigénios (CAA).
Células Efectoras:
Linfócitos T Auxiliares (TH) – reconhecem antigénios específicos associados, por exemplo, a marcadores da superfície de macrófagos e segregam mensageiros químicos que estimulam a capacidade defensiva de outras células, como sejam fegócitos, linfócitos B...
Linfócitos T citolíticos/citotóxicos (Tc) – reconhecem e destroem células que exibem determinantes antigénicos estranhos (células infectadas, células enxertadas ou cancerosas). Uma vez activados, estes linfócitos migram para o local de infecção ou para o Timo e segregam substâncias tóxicas que matam as células anormais por vários processos, entre os quais indução da lise celular por síntese de perforinas (proteínas).
Linfócitos T supressores (TS) – através de mensageiros químicos, ajudam a moderar ou suprimir a resposta imunitária, tornando mais lenta a divisão celular e limitando a produção de anticorpos pelos linfócitos B quando a infecção já está debelada.
Além das células efectoras, formam-se também:
Linfócitos T memória (TM) – vivem num estado inactivo durante muito tempo, mas respondem prontamente, entrando em divisão, se o organismo for novamente invadido pelo mesmo antigénio.
Memória Imunológica
Quando surge uma resposta imunitária secundária esta é mais rápida, de maior intensidade e de duração mais longa.
As vacinas desencadeiam uma resposta imunitária primária provocando a produção de células-memória. Nas vacinas, as bactérias patogénicas e os vírus são previamente tratados de modo a perderem a sua virulência, mas mantendo as suas propriedades antigénicas. A tecnologia de recombinação do DNA está, actualmente, a ser usada para produzir uma grande quantidade de proteínas antigénicas para serem incorporadas nas vacinas.
Geralmente, o declínio da resposta secundária é menos acentuado do que na resposta primária. Uma terceira dose de vacinação durante o declínio da resposta secundária eleva a taxa de anticorpos para um nível superior ao da segunda dose e, normalmente, confere imunidade prolongada contra a doença provocada pelo antigénio em causa, o que explica a necessidade de reforços de vacinas ao longo da vida para obter uma imunização efectiva.
A duração da imunidade passiva induzida é determinada pela quantidade de anticorpos introduzidos, a frequência da administração e o tempo necessário para que o receptor metabolize o anticorpo. Geralmente, para um adulto, uma única dose da fracção de anticorpo do soro confere imunidade passiva por mais de três meses.
Normalmente, a fonte de anticorpos usada para conferir imunidade passiva é outro ser humano que tem imunidade activa quanto à doença em questão, mas, ocasionalmente, os cavalos são usados para produzir imunoglobulinas, que podem ser recolhidas e administradas a humanos. O desenvolvimento de técnicas para recolher anticorpos monoclonais humanos pode eliminar o uso de imunoglobulinas equinas nos processos de imunidade passiva induzida humana.
Disfunções do Sistema Imunitário
Alergias: Reacções imunitárias excessivas, ou hipersensibilidade, em relação a agentes estranhos inócuos (alergénios), produzindo inflamação e outros sintomas, que podem causar doenças graves e até a morte.
Tipos de reacções alérgicas:
Hipersensibilidade imediata: ocorre quando um dado indivíduo produz grandes quantidades de IgE que se vão ligar ao pólen ou ao veneno de um insecto, por exemplo. Os mastócitos (nos tecidos) e os basófilos (no sangue) ligam-se à IgE, fazendo com que haja libertação de histamina. Esta provoca sintomas como a vasodilatação, a inflamação e dificuldades respiratórias.. Se uma reacção alérgica não for tratada com um anti-histamínico pode mesmo provocar a morte nas situações mais graves, devendo ser efectuados testes de detecção de sensibilidades.
Hipersensibilidade tardia: não se inicia nas horas seguintes à exposição ao antigénio. Neste caso, o antigénio é processado por células apresentadoras de antigénios e é iniciada uma resposta mediada por células. Esta resposta pode ser tão intensa que a quantidade de citocina libertada é capaz de activar macrófagos e lesionar tecidos. (Ex: quando bactérias que causam a tuberculose colonizam os pulmões.)
Doenças Auto-imunes Resultam de uma resposta auto-imunitária dirigida contra os próprios tecidos do organismo, ou seja, de uma reacção de hipersensibilidade do sistema imunitário contra antigénios próprios.
Fisiologicamente, a resposta auto-imunitária faz parte do quotidiano do organismo na manutenção da sua homeostasia. As doenças auto-imunes ocorrem, assim, quando há uma quebra na tolerância do organismo a alguns dos seus tecidos. Consequentemente, o sistema imunitário produz um ataque, do qual resulta a inflamação e destruição dos tecidos afectados.
Podem afectar:
vários órgãos e tecidos do organismo;
especificamente um órgão.
Mecanismos causadores:
exposição a agentes químicos tóxicos;
infecção por patogenes;
hereditariedade;
semelhança molecular;
outros (desconhecidos).
Exemplos de Doenças Auto-imunes:
Artrite Reumatóide – caracteriza-se pela inflamação das articulações causada pelo excesso de infiltração de leucócitos. Tal é provocado pela deficiente actividade do inibidor CTLA4, que impede que as células T reajam contra antigenes próprios.
Diabetes melitus insulino dependente (tipo I) – ocorrendo mais frequentemente em crianças, envolve uma reacção imunitária contra várias proteínas, ao nível das células do pâncreas que produzem insulina. No entanto, esta doença pode ter outras origens para além da apresentada.
Esclerose Múltipla – afecta, geralmente, jovens adultos, causando lesões progressivas no sistema nervoso. Envolve reacções mediadas por células T e por células B sobre duas das principais proteínas da mielina (membrana especial que envolve alguns tecidos nervosos).
Febre Reumática – é considerada um surto infeccioso tardio de uma infecção causada por uma bactéria, uma vez que, geralmente, surge 15 dias após uma amigdalite. Os sintomas são dores articulares acompanhadas por sinais de infecção (edema, dor, calor e vermelhidão) podendo surgir manifestações cardíacas e movimentos descoordenados. Na membrana que envolve a bactéria patogénica existe a proteína M que é muito idêntica a proteínas presentes em tecidos articulares, neurológicos e cardíacos, pelo que os anticorpos vão atacar nõ só a proteína M como as outras idênticas, do próprio organismo.
Glomerulonefrite – doença inflamatória, não purulenta, que atinge a parte funcional dos rins, o glomérulo. Pode provocar insuficiência renal, e é causada pela produção de anticorpos contra as estruturas do glomérulo.
Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) – o paciente desenvolve anticorpos que reagem contra as suas células normais, podendo afectar a pele, as articulações, os rins e outros órgãos. A pessoa torna-se «alérgica» a ela própria.
Imunodeficiências doenças que afectam o sistema imunitário, originando falhas que podem ser aproveitadas por organismos patogénicos oportunistas.
Imunodeficiência Inata:
Existem diferentes tipos de imunodeficiências inatas, cujos sintomas dependem dos constituintes do sistema imunitário que têm funcionamento deficiente.
A falta de linfócitos B traduz-se numa maior sensibilidade a infecções extracelulares.
A falta de linfócitos T traduz-se numa maior sensibilidade a agentes infecciosos intracelulares, vírus e cancros.
A imunodeficiência grave combinada (SCID) caracteriza-se pela ausência de linfócitos B e T. Os doentes são extremamente vulneráveis e apenas sobrevivem em ambientes completamente estéreis.
Tratamento por transplante de medula óssea ou terapia génica.
Imunodeficiência Adquirida (SIDA) :
Causada pelo vírus da imunodeficiência humana HIV.
HIV vírus de RNA (retrovírus) que infecta principalmente os linfócitos TH, mas também linfócitos B, macrófagos e células do sistema nervoso.
No interior da célula hospedeira, o RNA viral é transcrito para DNA pela transcriptase reversa e o DNA é integrado no genoma. Quando activo, o DNA viral dirige a produção de novos vírus que causam a destruição da célula hospedeira e infectam outras células. A destruição dos linfócitos tem como resultado a diminuição da função imunológica e o aumento da susceptibilidade de contrair infecções oportunistas e desenvolver doenças oncológicas.
Não existe cura nem vacina para a doença, mas a sua progressão pode ser retardada por medicamentos inibidores da transcriptase reversa (AZT) e inibidores de protease e por inibidores da ligação do vírus às células hospedeiras.
1 Para que um linfócito B se transforme num plasmócito secretor de anticorpos, necessita, normalmente, que também se ligue ao antigénio uma célula TH. A divisão celular e a diferenciação dos linfócitos B são estimuladas por um sinal químico acessório proveniente desta célula TH que está a responder perante um determinado antigénio.
Biologia
Cellular metabolism and fermentation
Cellular respiration and fermentation
Energy, Enzymes, and Catalysis Problem Set
Bioquímica